terça-feira, 1 de novembro de 2011

Mágoa

"Mágoa... Está para lá da tristeza, da solidão
do desejo de lutar pelo que já se perdeu,
da raiva de não ter o que mais se queria,
da pena de ter deixado fugir um grande amor,
por ser demasiado grande.
A vida vai mais depressa do que nós,
passa-nos por cima e os dias
comem-se uns aos outros.
Só queremos que o tempo corra para nos apaziguar a dor e
acalmar os palpos nos olhos.
Às vezes, quando a mágoa é enorme e sufoca,
vegetamos em silêncio para que ela não nos coma.
Fingimos que está tudo bem, rimo-nos de nós próprios perante os outros e até
mesmo perante o outro que vive dentro de nós.
Tornamos-nos espectadores da nossa dor.
Afastamos-nos de nós, do que somos, daquilo em que acreditamos.
No fundo estamos a desistir, como quem volta atrás
porque tem medo do escuro, vencidos pela desilusão
cansadas de esperar em casa que o mundo pare e se lembre de nós.
Mas o mundo nunca pára. Nada pára. A vida foge, os dias atropelam-se,
é preciso continuar a vive-los, mesmo com dor,
mesmo com mágoa. Pelo menos a mágoa magoa,
faz-nos sentir vivos.
Arde no peito e no orgulho, mas pouco a pouco vai matando a dor.
Torna-se a nossa companheira mais próxima,
deixando de nos defender da tristeza que se
vai consumindo como uma vela esquecida num presépio
morto que uma corrente de ar ou um novo sopro de vida
um dia apagará. Mas isso só é possível quando
conseguirmos esquecer."



(M.R.PINTO)

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