SE EU MORRER DE MANHÃ

Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.

Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.

Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.

Rosa Lobato de Faria.

Quantas vezes...
Sentimos uma enorme solidão,
Mesmo cercados de uma multidão.
Quantas vezes...
Falamos sem sermos notados por ninguém.
Quantas vezes...
Voltamos para casa com amargo na boca
Com a sensação de que não fizemos tudo o que era possível.
Quantas vezes....
As palavras não saem,ficam presas na garganta
Quantas vezes...
Falta a coragem para as dizer no momento certo,
Deitar cá para fora tudo que nos asfixia
Dizer a verdade ....por muito que faça doer,
Pois....quantas vezes
Seria vem melhor se ás vezes
Não houvesse ...tantas vezes!!!!


P.NUNES

Lembras-me uma marcha de Lisboa
Num desfile singular,
Quem disse
Que há horas e momentos para se amar

Lembras-me uma enchente de maré
Com uma calma matinal
Quem foi
Quem disse
Que o mar dos olhos também sabe a sal


{as memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar}


Queria viver tudo numa noite
Sem perder a procurar
O tempo, ou o espaço
Que é indiferente para poder sonhar


Quem foi que provocou vontades
E atiçou as tempestades
E amarrou o barco ao cais
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais


Composição: Luís Represas

Eu quis dizer
Você não quis escutar
Agora não peça
Não me faça promessas
Eu não quero te ver
Nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou

Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria
Oh meu deus era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone jamais

Mesmo querendo eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe pra trás


Composição: Herbert Vianna

Apesar de eu ser um perdedor
Não há vencedor
Não há mais nada para ganhar
As razões escondidas
Agora apagadas
Estão perdidas em pecado
Preso em um corpo solitário
Estou a perder o controle
Não posso mostrar as minhas emoções
E aos poucos estou a perder a minha alma
Perdedor... Eu sou um perdedor secreto
Travando uma batalha perdida.


P.NUNES

Recordações

Enquanto bebo um trago de vinho
Ao calor da lareira
Contemplo o crispar da fogueira
Fecho os olhos e as recordações abrem um caminho

Já houve tempos em que não tinha nada
Mas tinha tudo
E que tão pouco me bastava
Para conquistar o mundo

Com uma pequena flor
Construía um jardim
E um pequeno gesto de amor
Era o bastante para mim

Se o mundo vai ruir
Isso pouco me interessa
Vivo a vida ao segundo...a sorrir
Aproveito o momento sem pressa

Enquanto bebo um trago de vinho
Ao calor da lareira
Recordo momentos de carinho
De uma vida inteira.


P.NUNES

Eu sou o brilho dos teus olhos ao me olhar
Sou o teu sorriso ao ganhar um beijo meu
Eu sou teu corpo inteiro a se arrepiar
Quando em meus braços você se acolheu

Eu sou o teu segredo mais oculto
Teu desejo mais profundo, Teu querer
Tua fome de prazer, sem disfarçar
Sou a fonte de alegria, Sou o teu sonhar

Eu sou a tua sombra, Eu sou teu guia
Sou teu luar em plena luz do dia
Sou tua pele, protecção, Sou teu calor
Eu sou teu cheiro a perfumar o nosso amor

Eu sou tua saudade reprimida
Sou teu sangrar ao ver minha partida
Sou teu peito a apelar gritar de dor
Ao se ver ainda mais distante do meu amor

Sou teu ego, Tua alma
Sou teu céu, O teu inferno, A tua calma
Eu Sou teu tudo, Sou teu nada
Sou apenas a tua amada
Eu sou teu mundo, Sou teu poder
Sou tua vida, Sou meu eu em você


(PAULA FERNANDES)

Eu perdi a minha vida, esqueci de morrer
Tão distante do inferno, tão distante de ti
Pois o céu está pesado , negro e cinzento
Tu és apenas alguém que se foi.
Estou engolindo palavras duras demais para dizer,
Estou a tentar aguentar para não explodir.

Estou cansado de perguntar porquê?
Estou farto de lutar...
E agora é como um filme mudo que
Passa na minha mente

Foi...tudo se foi com o vento
Só ficaram as memórias no meu pensamento.
E ficou o penar....o penar de um tolo.


P.NUNES